sexta-feira, 21 de outubro de 2011

QI não é estático, e pode melhorar ou piorar na adolescência

Uma nova pesquisa afirma que a capacidade mental de adolescentes pode melhorar ou piorar em uma escala muito maior do que se pensava anteriormente. Até agora, a suposição era de que a capacidade intelectual, medida pelo QI, ficava completamente estática durante a vida. No entanto, testes realizados em adolescentes com idade média de 14 anos, e depois repetidos quando a idade média era de 18 anos, encontraram tanto melhorias quanto deterioração nos QIs.

O estudo envolveu 19 meninos e 14 meninas. Todos passaram por uma combinação de imagens cerebrais e testes de QI verbais e não verbais em 2004 e, em seguida, em 2008. Os resultados mostraram que uma mudança no QI verbal foi encontrado em 39% dos adolescentes, com 21% mostrando uma mudança na “performance QI” – um teste de raciocínio espacial. Os resultados são considerados válidos, pois pela primeira vez, as variações no QI foram correlacionadas com mudanças em duas áreas específicas do cérebro dos adolescentes. Um aumento no QI verbal correspondeu com um crescimento na densidade da parte da esquerda do córtex motor, uma região ativada durante a fala. E um aumento do QI não verbal foi relacionado com um aumento na densidade do cerebelo anterior, uma área associada com os movimentos da mão. “Os resultados podem ser encorajadores para aqueles cujo potencial intelectual pode melhorar, e um aviso para os empreendedores iniciais, que podem não manter o seu potencial”, disse a pesquisadora Cathy Price. Segundo Price, nós temos uma tendência de avaliar crianças e determinar o curso da sua educação relativamente cedo na vida.

O novo estudo mostra que sua inteligência provavelmente ainda esteja em desenvolvimento em uma fase inicial. “Temos que ter cuidado para não ‘prever’ performances mais pobres em uma idade adiantada, quando na verdade o QI da criança ainda pode melhorar significativamente em mais alguns anos”, argumenta Price. A pesquisa não buscou compreender as causas das mudanças. Uma explicação possível é que os adolescentes amadurecem em idades relativamente diferentes – com desenvolvedores mais rápidos e outros mais lentos -, enquanto os padrões relativos de educação podem desempenhar um papel também. Pesquisas futuras podem se concentrar em quão adaptável o cérebro pode ser depois da adolescência, e nas implicações para a abordagem das doenças mentais e outras doenças neurológicas.

Fonte: BBC

Timidez ou Fobia Social?

Fobia social, um medo persistente de situações que possam envolver exame e julgamento, é um diagnóstico um tanto quanto controverso em crianças e adolescentes. Alguns pesquisadores argumentam que esse diagnóstico transforma timidez normal em uma condição médica. Mas um novo estudo indica que uma pequena parcela de adolescentes tímidos podem realmente ter fobia social e que ela não é uma simples timidez. Uma pesquisa recente indica que os adolescentes com fobia social também são mais propensos a desenvolverem depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos. Essa constatação sugere que a fobia social é uma condição séria.

Pesquisadores questionaram 10.123 mil adolescentes norte-americanos e 6.483 pais sobre níveis de ansiedade, timidez e uso de medicamentos prescritos. Também foi avaliado se os adolescentes apresentavam fobia social. Os pais estavam mais propensos a julgar seus filhos como tímidos do que os próprios adolescentes: enquanto 62,4% deles afirmaram que seus filhos são tímidos, apenas 46,7% dos adolescentes descreveram a si mesmos dessa maneira. Dos estudantes que se achavam tímidos, 12,4% foram diagnosticados com fobia social. Entre os jovens descritos como tímidos pelos seus pais, 10,6% tinham a fobia. Já entre os adolescentes não identificados como tímidos, apenas 5% preencheram os critérios de fobia social. Em contraste com a alta frequência de timidez observada entre os adolescentes dos EUA, a fobia social afeta uma minoria de jovens.

Os adolescentes que se enquadram nessa condição relatam mais lutas sociais e mais distúrbios psicológicos do que os jovens que são simplesmente tímidos. Isso mostra que a fobia social deve ser levada a sério. Embora muitos adolescentes percebam o problema e seus prejuízos, a maioria não procura ajuda profissional. A gravidade da doença mostra que a timidez, algumas vezes, deve deixar os pais e jovens em alerta.Fonte: Live Science

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

É preciso aprender a lidar com o peso emocional

Por Dra. Gláucia

O ganho excessivo de peso é freqüentemente um sintoma de uma disfunção emocional subjacente. A depressão, o aborrecimento, a solidão, a raiva crônica, a ansiedade, a frustração, o estresse, os relacionamentos interpessoais insatisfatórios e a baixa auto-estima podem resultar em comer excessivo e, em sua conseqüência, ganho de peso não desejado.

Muitos de nós aprendemos que o alimento pode trazer conforto quase imediato, ao menos por um curto espaço de tempo – o que faz com que descontemos nos alimentos aqueles sentimentos de estresse emocional. Comer transforma-se em um vício e nós não aprendemos as habilidades que resolverão, de forma eficaz, nossa aflição emocional. Identificando os “gatilhos” que nos levam a comer, podemos tentar substituir, com técnicas apropriadas, as dificuldades em dizer “não” à comida e evitar o ganho de peso fora do programado.

Identificando as situações de “risco” – os “gatilhos” do comer

As situações e as emoções mais comuns que nos levam a comer podem ser classificadas em cinco categorias principais:

  • Social – envolve o nosso comer quando estamos rodeados de outras pessoas. Por exemplo, comer excessivo resultado do incentivo do outro para que você se alimente, comendo para sentir-se aceito, comendo durante uma discussão ou comendo porque nos sentimos inadequados em um grupo;
  • Emocional – é uma resposta ao aborrecimento, ao estresse, à fadiga, à tensão, à depressão, à raiva, à ansiedade ou à solidão (como uma maneira de “preencher o vazio”);
  • Ambiental – ocorre porque a oportunidade está lá: em um restaurante, com o incentivo de uma propaganda de um alimento em particular, passando por uma padaria;
  • Pensamentos - ato de comer em conseqüência a imagem negativa de seu próprio valor, ocorrendo em pessoas exageradamente críticas com seu jeito de ser ou a falta de força de vontade e, a partir de tudo isso, inventando-se desculpas para comer;
  • Fisiológico – quando se come em resposta à sugestões físicas: a fome aumentada por pular as refeições, mantendo um tempo prolongado de jejum e descontando tudo depois em uma única refeição, ou comer para curar dor-de-cabeça ou outro tipo de dor.

Para identificar os gatilhos do comer excessivo, mantenha um diário alimentar que mostre a você mesmo o que, quanto e quando você come, bem como em que situação isso acontece (você está estressado, tendo pensamentos ou emoções que pode identificar quando está comendo?). Isso fará com que se identifique rapidamente os padrões que levam ao comer excessivo.

Quebrando a rotina

Identificar os gatilhos é a primeira etapa. Entretanto, somente isso não é suficiente para alterar os padrões errados do comer, já que, muito provavelmente, você os carrega há muito tempo consigo. Agora é preciso mudar hábitos.

Desenvolver alternativas ao comer excessivo é a segunda etapa. Quando você identificar que vai alimentar-se em resposta a uma situação de risco ou a um “gatilho”, tente realizar atividades que tragam alguma boa lembrança a você: assista a um filme que queria, leia um livro que lhe interesse, escute sua música favorita, saia para caminhar, tome um longo e gostoso banho, faça um exercício respirando profundamente, jogue cartas, dance, converse com um amigo, realize tarefas de casa, faça jardinagem, lave o carro, passeio com o cachorro, escreva uma carta, nade, cuide de você – ou faça outras atividades prazerosas que farão com que o impulso reconhecido como “comer” passe.

Como lidar com isso?

Às vezes simplesmente distrair-se e desenvolver hábitos alternativos ainda não seja suficiente para controlar a aflição emocional que conduz ao comer excessivo. Outras maneiras de lidar eficazmente com o estresse emocional podem ser conseguidas com treinamento e podem envolver exercícios de relaxamento, meditação, treinamento assertivo comportamental, exercícios físicos, psicoterapia em grupo ou individual. Essas técnicas trabalham o controle da aflição emocional e ajudam a resolver o problema original, que, na grande maioria das vezes, não está no ato de comer, ensinando-nos maneiras mais eficazes e saudáveis de lidar com a situação do comer em excesso.

Recompense você mesmo

Assim que você aprender e incorporar as estratégias mais apropriadas e lidar bem com o seu comer excessivo, recorde de se recompensar pelo trabalho bem feito. Nós tendemos a repetir os comportamentos que foram reforçados, assim a recompensa quando você alcança e gerencia bem seus objetivos nutricionais pode existir de uma boa forma. Compra aquele livro que tanto queria, saia alguns dias para aquelas férias já há muito programadas, presentei-se com uma massagem que queria conhecer e aproveitar, mostre e saiba, no seu íntimo, que realizou um bom trabalho e se dê a chance de aumentar as probabilidades que você manterá seus novos hábitos saudáveis.


Fonte: http://draglauciaduarte.wordpress.com/artigos/e-preciso-aprender-a-lidar-com-o-peso-emocional/

domingo, 18 de outubro de 2009

Psicopatas `leves´ pesam muito

por Bel Cesar


"Quem não conhece um "leve" psicopata? Depois de ter lido o livro "Mentes Perigosas", da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, você vai ver que conhece, e muitos!

Eles são narcisistas, egocêntricos. Pensam muito e sentem pouco. Tomam decisões a partir de como podem ser beneficiados com prazer, auto-satisfação, poder, status e diversão.
Além de terem o prazer no "errado", isto é, de nadar contra a corrente, facilmente se ofendem e tornam-se violentos, pois não suportam contrariedades. São sempre vítimas.

Intolerantes ao tédio ou a situações rotineiras, os psicopatas buscam situações que possam mantê-los em um estado permanente de alta excitação. Por isso, evitam atividades que demandam grande concentração por longos períodos. Compromissos e obrigações nada significam para eles.

Naturalmente, pessoas assim não são confiáveis. Eles mentem, manipulam e chantageiam sem a menor dificuldade. Inteligentes, manipuladores, especializados no assédio psicológico, sabem convencer os outros. Eles conhecem as fraquezas alheias, apesar de não serem capazes de sentir o que os outros sentem.

Um dado importante: todo psicopata, de grau mais leve ou mais alto, tem consciência de seus atos, mas não sente a dor que causa nos outros, porque simplesmente seu cérebro não funciona assim.

Vamos compreender isso melhor. A grande maioria dos seres humanos é formada de empáticos: o sofrimento alheio provoca dor neles mesmos, o que os leva a tentar ajudar seus semelhantes. Ajudar o outro é uma forma de aliviar a dor que este lhes causa. Desta forma, nosso cérebro nos leva a ter comportamentos que garantem a harmonia social.

De modo simples e didático, podemos resumir nosso cérebro em duas importantes áreas: o sistema límbico (a sede das emoções) e o lobo frontal (sede do raciocínio).

Uma pessoa empática é capaz de ter ações compassivas e socialmente adequadas pois, como seu sistema límbico é ativado por emoções básicas, como raiva e medo, ele envia sinais para o lobo frontal onde são ativadas as áreas responsáveis pelos aspectos cognitivos - frios e racionais, assim como o julgamento moral.

Estudos comprovam que 4% da população mundial sofre de um déficit nos circuitos do sistema límbico, que deixa de transmitir, de forma correta, as informações para que o lobo frontal possa desencadear comportamentos adequados. Ou seja, chegam menos informações do sistema afetivo para o centro executivo do cérebro. Assim, o lobo frontal, sem dados emocionais, prepara um comportamento lógico e racional, mas desprovido de afeto. Por isso, eles têm consciência de seus atos, mas não sentem a dor que causam nos outros!

Desta forma, os psicopatas não sentem medo nem ansiedade: parecem imunes ao estresse. Permanecem calmos em situações que fariam muitas outras pessoas entrar em pânico. São indiferentes à ameaça de punição. Eles têm até dificuldade de reconhecer medo e tristeza nos rostos e nas vozes das pessoas.

Uma vez que admitimos que uma pessoa é assim, biologicamente incapaz de se responsabilizar por suas ações, ficamos atônitos. Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, estas pessoas nascem assim e irão morrer assim. Então, desista de querer mudá-los!
Mas, como lidar com eles? Como sentir compaixão por estas pessoas capazes de ferir e destruir a vida de tantas outras pessoas?

Tenho pensado bastante sobre isso. Em primeiro lugar, creio que seja importante admitirmos que certas pessoas são mesmo assim. Não precisamos rotulá-las de psicopatas, associando-as com pessoas criminosas e intencionalmente agressivas. Apenas reconhecer que certas pessoas são mesmo um pouco assim.

Um pouco é um dado relevante. Reconhecer este pouco já vai nos ajudar muito! Pois passaremos a investir nos relacionamentos com uma moeda de troca mais real e coerente.

Por exemplo, quando alguém nos mantém refém de suas promessas. Parece que o melhor está sempre por vir e que cabe a nós, tão somente a nós mesmos, saber conter nossa ansiedade, nos responsabilizarmos pelos danos da espera e "confiar neles". Como pessoas empáticas, não somos impulsivos. Mas, quando as promessas revelam-se mecanismos de controle para manter a situação vigente, devemos abrir os olhos!
Nestes casos, segue aqui um conselho: não confunda o que uma pessoa diz ter para oferecer, com ela mesma. Sua capacidade de realizar o que diz não é real!

Portanto, a primeira coisa a fazer é ajustar a intenção com que as promessas são reveladas, com a realidade concreta dos fatos. Uma vez recuperada a lucidez de nossa real situação, temos que nos preparar para olhá-la sob uma nova perspectiva. Como diz o velho ditado: "mais vale um pássaro na mão do que dois voando".

Pare e reflita. Você está sendo refém de alguma promessa manipuladora? Caso a resposta seja sim, calma. Mesmo consciente de sua limitação, será preciso ir aos poucos. Procure ajuda daqueles que souberam reconhecer e superar relacionamentos semelhantes. Uma vez livres de tal jogo sedutor, poderemos ter compaixão por eles. Mas, antes disto, é preciso nos curar.

Lembre-se, eles não mudam e não será você que irá provar o quanto é boa e capaz ao tentar mudá-los!"

Fonte: STUM

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sobre sair da bolha e o medo da morte



Desde o início dos tempos, a questão da morte e da finitude, muitas vezes acaba por alterar a tranqüilidade e o prazer de existir freqüentemente sendo substituídos por fluxos de pavor e mesmo de desorganização psíquica.

Existe um medo inerente ao ser humano que é o medo em relação ao que alguns costumam chamar de "passagem".

As perguntas que ficam em relação ao tema, permeiam questões sobre o desconhecido, sobre a própria finitude, sobre a razão da vida, sobre o que é transcendente.

Ao longo de nossas vidas, inúmeras são as vezes na qual vivenciamos ciclos emocionais repetitivos. Isso se deve ao fato de que "lá", quando ainda éramos crianças e com os recursos e conhecimentos que pode ter uma criança, entendemos que nos manifestarmos com determinados padrões de comportamentos na certa seria o seria o melhor para sobrevivermos a situações conflitantes.

Ocorre que com o desenvolvimento que vem através da linha do tempo e com as novas oportunidades que a vida oferece, pode-se gradativamente entender que o que a nossa criança entendeu "naquele tempo" pode ser totalmente redimensionado, abrindo espaço para novos entendimentos sobre nós mesmos bem como sobre as nossas relações para com a vida. Infelizmente, porém, não é sempre que este tipo de transformação saudável acontece.

Infinitas são as vezes onde pessoas caminham rumo a novas experiências, porém ainda fixadas em referências antigas que de nada servem para as dinâmicas da atualidade individual. Talvez por questões traumáticas, por medo excessivo ou pelo grau de fixação de prazer distorcido daquela resposta vinda da infância, é possível se perpetuar indefinidamente numa situação de realidade onde já não exista nenhuma validade para a consciência atual. Neste sentido, existe uma emergência silenciosa de se sair desta espécie de bolha. Porque se ao se perpetuar neste ciclo vicioso, deixa-se de viver aspectos fundamentais da vida. Toda a energia fica represada de modo circular gerando um tipo de hipnotismo que literalmente impede o mergulho numa realidade mais profunda do existir.

Por vezes, num engano atroz e por medo do desconhecido que representa sair da "bolha" e de se atirar no mundo da realidade, pessoas e mais pessoas acabam por se perpetuar nas mesmas questões emocionais, vagueando como sonâmbulas, mudando os cenários vivenciais, mas não as questões emocionais envolvidas. Nada se recicla, portanto, é nesta situação que a vida não acontece.

O medo de morrer, neste sentido, ocorre quando a pessoa sente que ficou em dívida com a vida, ao se lidar com o mundo da realidade, com as alegrias e com as frustrações inerentes a todo aquele que efetivamente está vivo. Quem deixa de vivenciar aspectos fundamentais de sua própria vida, pode ter um medo da morte cristalizado extremamente difícil de ser superado. É uma situação emocional e de alma bastante complexa para ser remodelada. Isso costuma ocorrer principalmente quando o indivíduo tem consciência de que está em dívida consigo mesmo, ou seja, sente que a própria vida não foi suficientemente vivida.
É freqüente a pessoa saber que tem uma conta a pagar a si mesma e, quer seja pela falta de coragem ou pela falta de iniciativa, sente que não aconteceu a renovação do que já estaria morto.

A grande questão é a de sair da bolha conhecida que se manteve permeada em meio a um montante de investimento de ilusões, sonhos de realização, idealizações e medos Nesta situação, para que efetivamente uma ruptura e, por conseqüência, uma transformação de vida ocorra, o ego deve estar suficientemente fortalecido para que possa comandar toda essa mudança paradigmática.

Observem que a questão da morte, da finitude, é um assunto que sempre interessa. Desde um rompimento afetivo, a perda de um animal de estimação, a perda de pessoas próximas e mesmo no vislumbre da nossa própria morte. É lógico que o processo de desligamento é muitas vezes complicado. Existem inúmeras questões envolvidas. Aqui, falo da plenitude da vida para que possamos de algum modo alcançar a finitude que nos espera na condição de humanos que somos de maneira mais autoconsciente e lúcida.

- Sabendo que as nossas existências estão válidas.

Agora voltando ao caso da suposta "bolha", imagine um ator que não queira abandonar um papel no qual esteja atuando e o personagem acaba assumindo o controle sobre o ator (consciência encarnada), para esse personagem seria a morte. Penso que romper a "bolha" faz parte do caminho da nossa iluminação. Esse tipo de passagem nem sempre é simples ou fácil a princípio... Depois que se toma consciência da dimensão do drama/bolha em que se está inserido é que efetivamente começa-se a sair dele. É quando nos tornamos incorruptíveis num caminho de volta, pelo fato da autoconsciência adquirida. Na seqüência, encaminha-se para perceber que essas mesmas dimensões/bolhas se tornarão apenas imagens, depois memórias distantes e, logo após, alcança-se o status de se ficar totalmente desidentificada com o antigo lugar. É neste momento que a vida começa por ficar totalmente dinamizada de outro modo.

Nesse palco terreno, todos somos protagonistas, elegemos os antagonistas com os quais lutaremos e, nessa luta épica individual, almejamos sair vitoriosos e por vezes a vitória é apenas abandonar um ciclo que se repete e que não leva a lugar nenhum.

Penso que a vida deveria ser encarada mais esportivamente, onde aprendemos a dar valor tanto as derrotas quanto as vitórias.

Esse tema sobre vidas não vividas também é muito oportuno, por que vejo isso o tempo todo em muitas pessoas, essa cobrança sobre sonhos e projetos não realizados é muito comum. Também vejo pessoas que para fugir dessa frustração dizem viver só o momento presente, abrem mão de projetos e sonhos para não ter que enfrentar possíveis derrotas.

A filosofia deveria ser: "Deixa a vida me levar, mas que eu tenha o leme em minhas mãos". Ou ainda, "viver todo mundo vive, mas existir é para poucos".

Agradecimentos: Este texto surgiu de um bate-papo de Silvia Malamud com Edson de Oliveira.

Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000.

Psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.

Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado.

Autora do Livro: Projeto Secreto Universos

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Email: silvimak@gmail.com

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Complexo de inferioridade, o que é isso?

Uma das queixas mais comuns das pessoas são os conflitos internos e nos relacionamentos causados pelo sentimento de inferioridade. Quantas pessoas não se sentem inferiores aos seus colegas de trabalho? Não buscam uma promoção por não se sentirem capazes? Não terminam um relacionamento destrutivo por acreditarem que não conseguirão ninguém que as trate bem? Estão sempre se comparando ao irmão, irmã, vizinho, tendo a certeza que o outro é muito mais? Outros deixam de trabalhar, sair, viver, tudo porque se sentem inferiores aos demais.
A denominação complexo de inferioridade foi criada por Alfred Adler (1870-1937), médico psiquiatra, para designar sentimentos de insuficiência e até incapacidade de resolver os problemas, o que faz com que a pessoa se sinta um fracasso em todos, ou em alguns aspectos de sua vida. É o que hoje chamamos de baixa auto-estima, que é quando não se tem consciência de seu valor pessoal. A baixa auto-estima pode comprometer todos os relacionamentos, seja pessoal, profissional, afetivo, familiar, social.
Adler afirmava que todas as crianças são profundamente afetadas por um sentimento de inferioridade, que é uma conseqüência do tamanho da criança e de sua falta de poder perante os adultos. O que desperta em sua alma um desejo de crescer, de ficar tão forte quanto os outros, ou mais forte ainda. Ele sugere que existem três situações na infância que tendem a resultar no complexo de inferioridade:
- Inferioridade orgânica:Crianças que sofrem de doenças ou enfermidades com deficiências físicas tendem a se isolar, fugindo da interação com outras crianças por um sentimento de inferioridade ou incapacidade de competir com sucesso com outras crianças. Contudo, ele salienta que as crianças que são incentivadas a superar suas dificuldades tendem a compensar sua fraqueza física, além da média, e podem desenvolver suas habilidades de maneira surpreendente. Por exemplo, se dedicam a uma atividade física para compensar a deficiência.
- Crianças superprotegidas e mimadas: Essas crianças podem desenvolver um sentimento de insegurança, por não sentirem confiança em suas próprias habilidades, uma vez que os outros sempre fizeram tudo por elas.
- Rejeição: Uma criança não desejada e rejeitada não conhece o amor e a cooperação na família. Não sentem confiança em suas habilidades e não se sentem dignas de receber amor e afeto dos outros. Quando adultos, tendem a se tornar frios, duros, ou extremamente carentes e dependentes da aprovação e reconhecimento de outras pessoas. Quanto mais necessidade de ser aprovado e reconhecido pelo outro, mais se desenvolve a necessidade de agradar. Isso faz com que as pessoas deixem de ser elas mesmas, tornando-se o que os outros gostariam que fosse, ou o que pensa que gostariam, reforçando cada vez mais o sentimento de inferioridade, pois não satisfazem a si mesmas.
Não são apenas as situações citadas acima que podem fazer com que a pessoa se sinta inferior, podem existir muitas outras ocorridas durante a infância, mas essas explicam a origem do termo utilizado e podem resultar em isolamento, falta de interesse social e cooperação. Todos sabemos que não é nada fácil para uma criança com alguma doença ou deficiência física conviver socialmente, pois as crianças em geral são implacáveis em brincar com as dificuldades de seus colegas, gerando vergonha, medo e a necessidade de se isolarem com o intuito de evitar ser alvo de piadas. Diante dessa realidade, é muito importante que os pais apoiem seus sentimentos e não os menosprezem; fazendo-a perceber que há muitas outras qualidades e que seu potencial pode ser desenvolvido. Do contrário, crescerão com muita dificuldade em acreditar em si mesmas, pois irá depender de como cada um irá lidar com esses aspectos.A superproteção durante a infância pode realmente gerar muita insegurança quando adulto, pois estas pessoas quando crianças não foram incentivadas a acreditarem em si mesmas. Assim, crescem, ainda que inconscientemente, acreditando que faziam tudo por ela por não ter a capacidade de fazer por si mesma. O que não é verdade! Todos temos potencial, a diferença é acreditar neles ou não.A rejeição, assim como o abandono, também pode gerar o sentimento de inferioridade.
Adler enfatizava ainda a importância da agressão, no sentido de lutar por sua capacidade de superar obstáculos e acreditar em si. Muitas vezes, a agressão pode manifestar-se como poder, superioridade e perfeccionismo, porém a busca pela superioridade como compensação pode tomar uma direção positiva ou negativa. Pode ser positiva e saudável quando motiva para realizações construtivas e na busca de crescimento. Será negativa e destrutiva quando existe uma luta pela superioridade pessoal, dominando os outros através do poder, podendo desenvolver a ambição (busca o crescimento material, deixando de lado pessoas e fatos significativos em sua vida) e inveja (desejando ter tudo o que o outro tem, mas não se sente capaz de conseguir por si próprio); tudo para compensar seu sentimento de inferioridade. A capacidade do outro sempre é percebida como maior que a própria capacidade, sentindo-se sempre inferior. Esse sentimento pode fazer com que a pessoa se acomode na situação. Ainda que isso lhe traga insatisfação e tristeza, nada faz para mudar, pois não se sente capaz ou com forças.
Muitas vezes nos deparamos com pessoas que demonstram ter uma total confiança em si mesma, mas, se observarmos melhor, perceberemos que na verdade são máscaras para compensar seu sentimento de inferioridade, não refletindo seu verdadeiro sentimento em relação a si próprio, ou seja, sua essência. Mas o que fazer quando somos adultos e sentimos medo, vergonha, ou seja, ainda sentimos essa inferioridade perante os outros? O mais indicado é:
- Evitar as comparações. Ficar se comparando com quem quer que seja não o fará se sentir melhor, pois as pessoas são diferentes, possuem necessidades, desejos e históricos de vidas diferentes.
- Compreenda seu histórico de vida e a origem de seu sentimento de inferioridade. Por qual motivo se sente inferior? Não desista, compreenda suas dificuldades e procure enfrentar cada uma delas.
- Enfrente o medo. É importante lidar e enfrentar o medo que as pessoas ou situações provocam e compreender que a percepção de si mesmo está baseada na conseqüência de fatos que já passaram. Você não pode mudar seu passado, mas pode mudar seu presente.
- Reconheça seu valor. Perceba que seu valor enquanto pessoa não pode e nem deve ser baseado na maneira como foi, ou ainda é tratado, ainda que isso tenha durado toda sua vida. Não permita mais ser desrespeitado ou maltratado. Lembre-se ainda que seu valor deve ser baseado pelo que é e não pelos bens materiais que possui.
- Identifique suas necessidades emocionais. O que você espera receber dos outros pode ser aquilo que não recebeu quando criança de seus pais. Não espere receber dos outros o que só você mesmo pode se dar.
- O que você deseja receber na relação afetiva? Muitas vezes os conflitos gerados no relacionamento têm origem em seu histórico de vida.
- Observe e procure compreender cada um de seus sentimentos. Perceba quando sentir inveja, ciúmes, necessidade de poder ou superioridade. Esses sentimentos podem estar ocultando e compensando um sentimento de inferioridade.
- Aprenda com os erros e não fique se punindo por ter errado, nem se acomode nas situações. Saia de sua zona de conforto e mude o que deseja!
- Valorize sempre suas conquistas! Pare de supervalorizar o que o outro tem ou faz e desvalorizar as próprias conquistas. Celebre sempre!
- Faça psicoterapia. O autoconhecimento obtido através do processo da psicoterapia poderá fazer com que reconheça seus reais valores e liberte-se do complexo de inferioridade que acorrenta e aprisiona.

Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos, importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança interior.
Conheça meu eBook sobre interpretação de sonhos: Os Sonhos e Seus Significados.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Reflexões sobre psicologia jurídica e seu panorama no Brasil

Fátima França*
Curso de Psicologia Jurídica, Instituto Sedes Sapientae


RESUMO

A Psicologia Jurídica é uma emergente área de especialidade da ciência psicológica, se comparada às áreas tradicionais de formação e atuação da Psicologia como a Escolar, a Organizacional e a Clínica. É próprio desta especialidade sua interface com o Direito, com o mundo jurídico, resultando encontros e desencontros epistemológicos e conceituais que permeiam a atuação do psicólogo jurídico. Os setores da Psicologia Jurídica são diversos. Há os mais tradicionais, como a atuação em Fóruns e Prisões, e há também atuações inovadoras como a Mediação e a Autópsia psíquica, uma avaliação retrospectiva mediante informações de terceiros. O presente trabalho focaliza a Psicologia Jurídica Brasileira. Objetiva apresentar e discutir a definição de Psicologia Jurídica e sua relação com o Direito, destacar seus setores de atuação de acordo com os trabalhos apresentados no III Congresso Ibero- Americano de Psicologia Jurídica realizado no Brasil em 1999 e abordar os desafios para a Psicologia Jurídica Brasileira.


Palavras-chave: Psicologia jurídica, Psicologia jurídica no Brasil, Psicologia e justiça, Psicologia forense, Psicólogo jurídico.

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Introdução

Atualmente, a Psicologia Jurídica brasileira é uma das especialidades emergentes da Psicologia, cujos psicólogos atuam nesta área há muito tempo. No entanto, as publicações sobre o tema são diminutas, principalmente aquelas que abordam o perfil da Psicologia Jurídica brasileira. Nesse contexto, torna-se ambicioso o título deste artigo pela escassez de fontes bibliográfi cas. Para, minimamente, tecer um espectro da Psicologia Jurídica desenvolvida no Brasil, a fonte será os Anais do III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica, evento realizado em 1999 em São Paulo1.

Feitas essas ressalvas referentes ao título, passo a descrever a estrutura deste artigo. Primeiramente abordarei os vários termos utilizados para nomear esta área de especialidade da Psicologia. Em seguida, tratarei da defi nição de Psicologia Jurídica apresentada por Popolo. Minhas inquietações sobre as definições constituem a próxima etapa do artigo, a qual será acompanhada da confl uência entre Direito e Psicologia, do espectro da especialidade no Brasil. Para finalizar, apresentarei questões sobre os desafi os da Psicologia Jurídica Brasileira.

Revisão teórica

Psicologia Jurídica é uma das denominações para nomear essa área da Psicologia que se relaciona com o sistema de justiça. Na Argentina, denomina-se Psicologia Forense, embora haja muitos profi ssionais argentinos fi liados à Associação Ibero-Americana de Psicologia Jurídica, o que permite inferir a adoção do termo Psicologia Jurídica. De acordo com publicação do Colegio Oficial de Psicólogos de España Oficial de Espanha2, o termo adotado naquele país é Psicologia Jurídica, no entanto, a Associação Européia de Psicologia e Ley atribui a designação de Psicologia e Ley.

No Brasil, o termo Psicologia Jurídica é o mais adotado. Entretanto há profi ssionais que preferem a denominação Psicologia Forense. Prefiro o adjetivo “jurídica” por ser mais abrangente. Para o autor do Dicionário Prático de Língua Portuguesa, o termo forense é “relativo ao foro judicial. Relativo aos tribunais”3. De acordo com o mesmo dicionário, a palavra “jurídico” é concernente ao Direito, conforme às ciências do Direito e aos seus preceitos. Assim, a palavra “jurídica” torna-se mais abrangente por referir-se aos procedimentos ocorridos nos tribunais, bem como àqueles que são fruto da decisão judicial ou ainda àqueles que são de interesse do jurídico ou do Direito.

Popolo (1996, p. 21) entende ser Psicologia Jurídica

"El estudio desde la perspectiva psicológica de conductas complejas y significativas en forma actual o potencial para o jurídico, a los efectos de su descripción, análisis, comprensión, crítica y eventual actuación sobre ellas, en función de lo jurídico".

Segundo o autor, a Psicologia Jurídica é uma área de especialidade da Psicologia e, por essa razão, o estudo desenvolvido nessa área deve possuir uma perspectiva psicológica que resultará num conhecimento específi co. No entanto, pode-se valer de todo o conhecimento produzido pela ciência psicológica. Para ele, o objeto de estudo da Psicologia Jurídica são os comportamentos complexos (conductas complejas) que ocorrem ou podem vir a ocorrer. Para Popolo (1996), esses comportamentos devem ser de interesse do jurídico. Este recorte delimita e qualifi ca a ação da Psicologia como Jurídica, pois estudar comportamentos é uma das tarefas da Psicologia. Por jurídico, o autor compreende as atividades realizadas por psicólogos nos tribunais e fora dele, as quais dariam aporte ao mundo do direito. Portanto, a especifi cidade da Psicologia Jurídica ocorre nesse campo de interseção com o jurídico.

A complexidade dos comportamentos se dá pela multiplicidade de fatores que o determinam. Assim afirma:

"Desde la misma perspectiva psicológica puede ser examinada a partir de distintos horizontes, como lo veremos en la pericia, al adoptar una pespectiva pericial multifatirial. Podemos analizar la conducta desde distintos fatores: a) desde el contexto mínimo donde el hecho a estudiar há tenido lugar, b) desde su contexto grupal, da familia de origem o familia atual, c) desde la conducta vista en un contexto más amplio como el de la comunidad donde la misma há tenido lugar, y a partir de determinados constructos individuales" (POPOLO, 1996, p. 22).

Popolo (1996) ressalta a importância de os profi ssionais, que são peritos, reconhecerem o limite de sua perícia, pois se trata de conhecimento produzido a partir de um recorte da realidade. Assim, deve-se reconhecer a limitação do conhecimento da conduta por meio da perícia. Neste contexto, torna-se necessário verifi car a confi abilidade e a validez dos instrumentos e do modelo teórico utilizados, a fim de verificar se os mesmos respondem ao objetivo do procedimento. Em virtude dessa limitação do conhecimento produzido, torna-se imperativa a compreensão interdisciplinar do fenômeno estudado para melhor abordá-lo em sua complexidade.

Essas ponderações de Popolo (1996), a meu ver, são importantes para compreendermos que o conhecimento resultante da perícia não representa a compreensão do indivíduo como um todo. Por esse motivo, esse conhecimento refere-se a um recorte parcial da realidade (do indivíduo). No entanto, por vezes, esses conhecimentos produzidos pelas perícias são tratados como a verdade sobre o indivíduo. Por exemplo, o que a perícia produz sobre o comportamento do indivíduo criminoso estende-se a todo o indivíduo em sua integridade e essa marca determinará a sua existência.

Esse fenômeno é resultado da própria expectativa do jurídico, cujo caráter é positivo, e visa à compreensão do todo (indivíduo) por meio do estudo do particular (comportamento). Por outro lado, há teorias psicológicas positivas que buscam compreender o indivíduo pelo estudo do particular, isolando-o do contexto no qual está inserido. Nessa perspectiva, Direito e Psicologia possuem uma concepção de homem positivista. Todavia, considero que a Psicologia Jurídica deva adotar outra concepção de homem. Ressalto um grande desafi o para os psicólogos jurídicos peritos: serem produtores de conhecimento levando em consideração os aspectos sócio-históricos, de personalidade e biológicos que constituem o indivíduo.

As avaliações psicológicas, como as perícias, são importantes, contudo há a necessidade de repensá-las. Justifica-se tal postura porque realizar perícia é uma das possibilidades de atuação do psicólogo jurídico, mas não a única. O psicólogo jurídico pode atuar fazendo orientações e acompanhamentos, contribuir para políticas preventivas, estudar os efeitos do jurídico sobre a subjetividade do indivíduo, entre outras atividades e enfoques de atuação.

Até aqui abordamos a definição de Psicologia Jurídica defendida por Popolo (1996), no entanto há outras defi nições, como a do Colegio Oficial de Psicólogos de España: “La psicología Jurídica es un área de trabajo e investigación psicológica especializada cuyo objeto es el estudio del comportamento de los actores jurídicos en el ámbito del Derecho, la Ley e la Justicia” (1998, p. 109).

Apenas destaco que ambas as definições estabelecem como objeto de estudo da Psicologia Jurídica o comportamento humano no âmbito do mundo jurídico. Isso me traz inquietações. A Psicologia Jurídica estuda apenas comportamento? Será que ela deve apenas dedicar-se ao estudo do comportamento? Tomo a liberdade neste artigo de fazer considerações para tentar responder essas indagações. Trata-se de um exercício de pensamento no qual busco interlocutores, no caso, os leitores.

Para responder tais perguntas, acredito ser necessário fazer algumas considerações sobre a Psicologia.

Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 21) afi rmam que a Psicologia, por ser uma ciência nova, “não teve tempo ainda de apresentar teorias acabadas e defi nitivas, que permitam determinar com maior precisão seu objeto de estudo”. Disso resulta a diversidade de objetos da Psicologia: o comportamento, o inconsciente, a personalidade, a identidade, entre outros. Os autores ainda destacam as diferentes concepções de homem adotadas pelas teorias psicológicas outro contributo para o surgimento da diversidade de objeto da Psicologia. Neste contexto, uma questão se impõe: como determinar um objeto de estudo que agregue toda a diversidade da abordagem psicológica para que a psicologia possa assumir-se como ciência independente?

A definição encontrada para unificar os diversos objetos de estudo da Psicologia baseou-se na subjetividade.

"A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai construindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifi ca, de um lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. Esta síntese – a subjetividade – é o mundo de idéias, signifi cados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais" (BOCK; FURTADO e TEIXEIRA, 1999, p. 23).

Retomando a Psicologia Jurídica, acredito que ela deve ir além do estudo de uma das manifestações da subjetividade, ou seja, o estudo do comportamento. Devem ser seu objeto de estudo as conseqüências das ações jurídicas sobre o indivíduo.

Segundo Foucault (1974), tanto as práticas jurídicas quanto as judiciárias são as mais importantes na determinação de subjetividades, pois por meio delas é possível estabelecer formas de relações entre os indivíduos. Tais práticas, submissas ao Estado, passam a interferir e a determinar as relações humanas e, conseqüentemente, determinam a subjetividade dos indivíduos.

Sob essa perspectiva, a Psicologia Jurídica enfocaria também as determinações das práticas jurídicas sobre a subjetividade, não mais enfocaria apenas o comportamento do indivíduo para explicá-lo de acordo com a necessidade jurídica. A meu ver, esta é uma forma de ir além da expectativa que o jurídico possui em relação à Psicologia Jurídica.

Como exemplo, cito minha experiência como psicóloga de um programa de assistência aos egressos do Sistema Penitenciário. Diariamente testemunhava as conseqüências de seu encarceramento. Não se tratava apenas dos comportamentos adquiridos na prisão, mas de uma nova forma de pensar e sentir. Eram marcas impregnadas na subjetividade dos egressos que determinavam a forma de suas existências. Este é apenas um exemplo dos muitos que vivenciei, os quais me inquietavam como psicóloga jurídica.

Subjacente a todas as considerações feitas neste artigo está a característica da confluência ou modelo de relação entre Psicologia Jurídica e Direito (mundo jurídico). Para Popolo (1996), umas das características segue o modelo de subordinação. Assim, a Psicologia Jurídica procura tão-somente atender a demanda jurídica como uma psicologia aplicada cujo objetivo é contribuir para o melhor exercício do Direito. Esse tipo de relação de subordinação ocorre entre psicologia e psiquiatria forense, na qual o saber psicológico está a serviço da psiquiatria como assessor. O psicólogo torna-se auxiliar do médico e contribui na elaboração do diagnóstico clínico, que é de responsabilidade do médico, e não do psicólogo (POPOLO, 1996, p. 15).

Ainda ressalta o autor que para a Psicologia Jurídica não há nenhum problema em responder as perguntas e as demandas do jurídico. Entretanto, o que não pode ocorrer é a sua estagnação neste tipo de relação. Como já foi mencionado, a Psicologia Jurídica deve transcender as solicitações do mundo jurídico. Deve repensar se é possível responder, sob o ponto de vista psicológico, a todas as perguntas que lhe são lançadas. Nesses termos, a questão a ser considerada diz respeito à correspondência entre prática submetida e conhecimento submetido. Um se traduz no outro.

A outra forma de relação entre Psicologia Jurídica e Direito, de acordo com Popolo (1996), é a complementaridade. A Psicologia Jurídica como ciência autônoma, produz conhecimento que se relaciona com o conhecimento produzido pelo Direito, incorrendo numa interseção. Portanto há um diálogo, uma interação, bem como haverá diálogo com outros saberes como da Sociologia, Criminologia, entre outros.

A Psicologia Jurídica está subdividida da seguinte forma:

• Psicologia Jurídica e o Menor. No Brasil, por causa do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a criança passa a ser considerada sujeito de direitos. Muda-se o enfoque da criança estigmatizada por toda a significação representada pelo termo “menor”. Este termo “menor” forjou-se no período da Ditadura para se referir à criança em situação de abandono, risco, abuso, enfim, à criança vista como carente. Denominá-la como menor era uma forma de segregá-la e negar-lhe a condição de sujeito de direitos. Em virtude disso, no Brasil, denominamos assim este setor da Psicologia Jurídica e as questões da Infância e Juventude.

• Psicologia Jurídica e o Direito de Família: separação, disputa de guarda, regulamentação de visitas, destituição do pátrio poder. Neste setor, o psicólogo atua, designado pelo juiz, como perito oficial. Entretanto, pode surgir a figura do assistente técnico, psicólogo perito contratado por uma das partes, cuja principal função é acompanhar o trabalho do perito oficial.

• Psicologia Jurídica e Direito Cível: casos de interdição, indenizações, entre outras ocorrências cíveis.

• Psicologia Jurídica do Trabalho: acidentes de trabalho, indenizações.

• Psicologia Jurídica e o Direito Penal (fase processual): exames de corpo de delito, de esperma, de insanidade mental, entre outros procedimentos.

• Psicologia Judicial ou do Testemunho, Jurado: é o estudo dos testemunhos nos processos criminais, de acidentes ou acontecimentos cotidianos.

• Psicologia Penitenciária (fase de execução): execução das penas restritivas de liberdade e restritivas de direito.

• Psicologia Policial e das Forças Armadas: o psicólogo jurídico atua na seleção e formação geral ou específica de pessoal das polícias civil, militar e do exército.

• Vitimologia: busca-se a atenção à vítima. Existem no Brasil programas de atendimentos a vítimas de violência doméstica. Busca-se o estudo, a intervenção no processo de vitimização, a criação de medidas preventivas e a “atenção integral centrada nos âmbitos psico-socio-jurídicos” (Colegio de Psicólogos de España, 1998, p. 117).

• Mediação: trata-se de uma forma inovadora de fazer justiça. As partes são as responsáveis pela solução do confl ito com ajuda de um terceiro imparcial que atuará como mediador. De acordo com Colegio Ofi cial de Psicólogos de España “la base de esta nueva técnica está en una manera de entender las relaciones individuo-sociedad distinta, sustentada por la autodeterminación y la responsabilidad que conducen a un comportamiento cooprativo e pacífico” (1998, p. 117). A mediação pode ser utilizada tanto no âmbito Cível como no Criminal.

• Formação e atendimento aos juízes e promotores.

Feitas essas considerações, discorremos sobre o panorama da Psicologia Jurídica no Brasil.

Os trabalhos de autores brasileiros apresentados no III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica enquadram-se nos seguintes setores de atuação:

I – Setores mais tradicionais da Psicologia Jurídica. A cada setor, seguem os temas dos trabalhos apresentados.

• Psicologia Criminal5: fenômeno delinqüencial, relações entre Direito e Psicologia Jurídica, intervenção em Juizados Especiais Criminais, perícia, insanidade mental e crime, estudo sobre o crime.

• Psicologia Penitenciária ou Carcerária: estudos sobre reeducandos, intervenção junto ao recluso, prevenção de DST/AIDS em população carcerária, atuação do psicólogo, trabalho com agentes de segurança, stress em agentes de segurança penitenciária, trabalho com egressos, penas alternativas (penas de prestação de serviço à comunidade).

• Psicologia Jurídica e as questões da infância e juventude: avaliação psicológica na Vara da Infância e Juventude, violência contra criança e adolescente, atuação do psicólogo, proteção do fi lho nos cuidados com a mãe, infância, adolescência e conselho tutelar, supervisão dos casos atendidos na Vara, adoção, crianças e adolescentes desaparecidos, intervenção junto a crianças abrigadas, trabalho com pais, adolescentes com prática infratora, infração e medidas sócio-educativas, prevenção e atendimento terapêutico, atuação na Vara Especial e estudos sobre adolescentes com prática infratora.

• Psicologia Jurídica: investigação, formação e ética: formação do psicólogo jurídico, supervisão, estágio, questões sociais e legais, relação entre direito e Psicologia Jurídica, pesquisa em Psicologia Jurídica, Psicologia Jurídica e Ética.

• Psicologia Jurídica e Direito de Família: separação, atuação do psicólogo na Vara de Família, relação entre Psicologia Jurídica e Direito, paternidade, legislação, acompanhamento de visitas, perícia, disputa de guarda, atuação do assistente técnico.

• Psicologia do Testemunho: falsas memórias em depoimentos de testemunhas, avanços e aplicações em falsas memórias.

• Psicologia Jurídica e Direito Civil: acidentes de trabalho, psicologia e judiciário.

• Psicologia Policial/Militar: treinamento e formação básica em Psicologia Policial, avaliação pericial em instituição militar, implantação do curso de direitos humanos para policiais civis e militares.

II – Setores mais recentes da Psicologia Jurídica e seus temas:

Avaliação retrospectiva mediante informações de terceiros (autópsia psicológica).

• Mediação: no âmbito do direito de família e no direito penal.

• Psicologia Jurídica e Ministério Público: o trabalho do psicólogo, assassinatos de adolescentes.

• Psicologia Jurídica e Direitos Humanos: psicologia e direitos humanos na área jurídica.

• Dano psíquico: dano psicológico em perícias acidentárias, perícias no âmbito cível.

• Psicologia Jurídica e Magistrados: modelos mentais, variação de penalidade, tomada de decisão dos juízes, seleção de magistrados.

• Proteção a testemunhas: o trabalho multidisciplinar num programa de Apoio e Proteção a Testemunhas, Vítimas da Violência e seus Familiares.

• Vitimologia: violência doméstica contra a mulher, atendimento a famílias vitimizadas.

Considerações finais

Este levantamento possibilita constatarmos que a Psicologia Jurídica brasileira atinge quase a totalidade de seus setores. Porém, ainda temos uma concentração de psicólogos jurídicos atuantes nos setores mais tradicionais, como na psicologia penitenciária, na Psicologia Jurídica e as questões da infância e juventude, na Psicologia Jurídica e as questões da família. Por outro lado, permite verifi car outras áreas tradicionais pouco desenvolvidas no Brasil, como a psicologia do testemunho, a psicologia policial/militar e a Psicologia Jurídica e o direito cível.

Os setores denominados como não tradicionais ou mais recentes, como a proteção de testemunhas, a Psicologia Jurídica e os magistrados, a Psicologia Jurídica e os direitos humanos, a autópsia psíquica, entre outros, também necessitam de maior desenvolvimento.

Essas reflexões, embora sejam fundamentadas num levantamento dos trabalhos brasileiros apresentados no III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica e não em pesquisa, nos permitem vislumbrar o quanto a Psicologia Jurídica Brasileira pode e necessita crescer, não só na quantidade de profi ssionais atuantes, na qualidade do trabalho desenvolvido por eles, mas também na intensifi cação da produção e publicação do conhecimento. O registro da prática e os trabalhos teóricos fomentam e enriquecem o caráter científi co da Psicologia Jurídica, o que, em tese, possibilitaria maior efi ciência da prática.

Este é um dos desafios da Psicologia Jurídica brasileira. Contudo, existem outros em níveis metodológicos, epistemológicos e de compromisso social. Não podemos ignorar problemas sociais da magnitude dos nossos, os quais muitos permeiam ou são permeados pelo jurídico. Um exemplo signifi cativo e pouco estudado pela Psicologia Jurídica, presente no cotidiano do mundo jurídico, é a questão racial.


Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA JURÍDICA e UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Anais do III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica, São Paulo: 2000. 391p.

BOCK, A. M. B., FURTADO, O., TEIXEIRA, M. L. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. 368p.

COLEGIO OFICIAL DE PSICÓLOGOS DE ESPAÑA. Perfiles profissionales del psicólogo. Madrid, 1998. 172p.

FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 1974. 158p.

POPOLO, Juan H. del. Psicologia judicial. Mendonza: Ediciones Juridicas Cuyo, 1996. 475p.


* Psicóloga Jurídica; Presidente da Associação Brasileira de Psicologia Jurídica; Coordenadora do Curso de Psicologia Jurídica do Instituto Sedes Sapientiae.
1 O Congresso foi realizado pela Associação Brasileira de Psicologia Jurídica e pela Universidade Mackenzie. Este foi o primeiro Congresso de Psicologia Jurídica realizado em nosso país, no qual foram apresentados inúmeros trabalhos realizados por psicólogos jurídicos de todo o país.
2 Órgão semelhante ao Conselho Federal de Psicologia.
3 Dicionário Prático da Língua Portuguesa, Melhoramentos, 1985.
4 Esta subdivisão dos setores da Psicologia Jurídica fundamentou-se na classificação pertinente à publicação do Colegio Oficial de Psicólogos de España. Fiz adequações, pois os termos utilizados por eles referiam-se a uma Psicologia Jurídica aplicada. Assim, por exemplo, em vez de mencionar Psicologia Jurídica aplicada ao Direito de Família, suprimi o termo “aplicada” por ela não representar uma ciência autônoma, conforme foi discutido ao longo deste artigo.
5 Enrico Ferri (1925, apud POPOLO, 1996) defi ne que a Psicologia Criminal estuda o delinqüente como autor de delito.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Toque como via de acesso

Por Márcia Bruno

Pensemos um pouco sobre a expressão “com tato”...


Falar, agir com tato significa ser cuidadoso, delicado, respeitoso. Mas é também agir e falar através do sentido do tato, do contato entre peles, entre corpos. Talvez por isso a expressão tenha se impregnado desse significado de delicadeza e cuidado. Falar com o tato é comunicar-se através da linguagem corporal mais arcaica e profunda, primordial.


Dentro da barriga da mãe o tato é o primeiro sentido que se desenvolve. Vamos crescendo dentro de nossa mãe imersos em sensações táteis, até chegar um ponto em que as costas e o útero parecem fundidos, como um abraço contínuo, que nos estimula e acolhe. Essa comunicação afetiva é estabelecida na origem através da linguagem corporal. A função psíquica, então, se apóia e se desenvolve a partir da vivência corporal. Esta vivência, no quadro de uma relação segura, dá acesso a um sentimento de base que garante ao sujeito a integridade do seu envelope corporal.


As mãos são as partes do nosso corpo que mais se ligam ao significado amplo do tocar. São elas que freqüentemente realizam a experiência do contato. E é através delas que emitimos mais energia do nosso ser, podendo, assim ampliar nossas possibilidades de encontro com o outro.


Dentro desta perspectiva, o toque é um elemento muito potente, pois faz referência a uma das primeiras memórias somáticas do ser humano. Ao tocar o corpo de uma pessoa, tocamos na história de vida desse sujeito, pois nosso corpo imprime todos os registros emocionais.O trabalho terapêutico pela via do toque torna-se muito potente, na tentativa de restabelecer essa comunicação tátil primária. Enquanto terapeuta corporal, tenho possibilidade de acompanhar o indivíduo, utilizando massagens e percursos apropriados com intenções precisas, em seu processo de desenvolvimento pessoal. Meu lugar, nesta relação é de uma “parteira”, possibilitando o reconhecimento da profunda existência da pessoa, viabilizando a expressão de sentimentos, sensações e /ou imagens e promovendo a diluição da tensão nervosa. Ou seja, a capacidade de dissolução e regulação de “resíduos” emocionais, a partir da descarga metabólica.


O registro é o da sensação, tornando-se possível o relaxamento do controle mental para a conexão com o universo sensorial. Nesse espaço é viável conectar um outro ritmo, uma outra respiração, e resgatar a confiança no seu ser orgânico, no seu ser corporal.


Fonte: NUNAP

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Raízes da Esquizofrenia

Três pesquisas apresentam diversas novidades a respeito da variação genética e do risco de desenvolver o conjunto de psicoses que tem sintomas como delírios persecutórios e alucinações, especialmente auditivas, e que atinge cerca de 1% da população

Agência FAPESP

Esquizofrenia e transtorno bipolar têm raízes genéticas semelhantes. A afirmação está em um estudo publicado na edição desta quinta-feira (2/7) da revista Nature, que traz outros dois artigos com resultados de pesquisas diferentes sobre a esquizofrenia.

As três pesquisas apresentam diversas novidades a respeito da variação genética e do risco de desenvolver o conjunto de psicoses que tem sintomas como delírios persecutórios e alucinações, especialmente auditivas, e que atinge cerca de 1% da população.

Reunidos, os estudos, que cobriram análises de mais de 10 mil casos de esquizofrenia, descobriram uma extensa gama de variações genéticas que respondem por pelo menos um terço do risco de desenvolvimento da doença.

Os pesquisadores do Consórcio Internacional de Esquizofrenia - fundado em 2006 e que reúne cientistas de 11 instituições na Europa e nos Estados Unidos - mostraram que variantes genéticas comuns estão por trás do risco de desenvolvimento da doença, na primeira evidência molecular de tal relação.

O estudo também apresenta evidência molecular de um componente poligênico para o risco da doença que envolve milhares de alelos comuns. Esses alelos, cada um com um pequeno efeito, também contribuem para o risco de desenvolvimento de transtorno bipolar.

"Os resultados recomendam um novo olhar em nossas categorias de diagnóstico. Se alguns dos mesmos riscos genéticos envolvem tanto a esquizofrenia como o transtorno bipolar, talvez esses distúrbios tenham origem em alguma vulnerabilidade comum no desenvolvimento cerebral", disse Thomas Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIHM, na sigla em inglês), um dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

Os três estudos apontam para uma mesma área, no cromossomo 6, conhecida por abrigar genes envolvidos em imunidade e por controlar como e quando os genes são ligados ou desligados. Essa identificação de um local pode ajudar a explicar como fatores ambientais afetam o risco de desenvolvimento da esquizofrenia. Há, por exemplo, evidências de que grávidas com gripe têm maior risco.

"Nosso estudo empregou uma nova maneira de detectar as assinaturas moleculares das variações genéticas que apresentam pequenos efeitos no risco potencial de desenvolvimento da esquizofrenia. Individualmente, esses efeitos não são estatisticamente significativos, mas, juntos, eles têm um papel importante, somando pelo menos um terço do risco", disse Shaun Purcell, da Universidade Harvard, autor de um dos estudos.

Um dos estudos também encontrou uma associação entre esquizofrenia e uma variante genética no cromossomo 1 que está ligada à esclerose múltipla. Outra pesquisa identificou evidências de associação com variantes nos cromossomos 11 e 18 que podem ajudar a explicar os déficits de memória e de raciocínio em casos de esquizofrenia.

Os artigos Common variants conferring risk of schizophrenia, Common variants on chromosome 6p22.1 are associated with schizophrenia e Common polygenic variation contributes to risk of schizophrenia that overlaps with bipolar disorder podem ser lidos por assinantes da Nature em www.nature.com.
Fonte: Psique

domingo, 5 de julho de 2009

As agressões que ignoramos


Muitas vezes, somos vítimas de agressões que nem sempre nos damos conta e que com muita freqüência acontecem entre pais e filhos, famílias, casais, pessoas que se amam, enfim, nas relações cotidianas. Muitas delas nos causam culpa, doenças, conflitos. Parece ser difícil perceber essas agressões e, principalmente, os ferimentos que causam, pois em geral só é enfatizada a violência física e explícita. As agressões silenciosas nem sempre deixam marcas externas, físicas e visíveis, mas conseguem deixar marcas eternas.

Muita violência velada é transmitida pelas famílias nas entrelinhas da comunicação diária, mediante conselhos, avisos e cuidados que nos impedem de entrar em contato conosco e com nossas necessidades. Quantas famílias, ainda nos dias de hoje, ensinam que sentir e expressar sentimentos é sinal de fraqueza? Quantas vezes não fomos ou somos comparados com o irmão que é mais inteligente e que tira as melhores notas? Ou ainda, as críticas sob o legado, que são construtivas e para "nosso bem"? Que "bem" é esse que nos lembra a todo o momento que tudo que fazemos é errado? Por que é tão difícil elogiar o outro, valorizando o que faz de bom? Talvez por que irá percebê-lo como melhor? É mais fácil e tão somente, criticar?

Quantas pessoas não percebem que continuamente agridem do mesmo modo que foram agredidas? E quantas outras não permitem ser agredidas mesmo adultas? Quantas pessoas por medo permanecem acorrentadas, sem motivação interior para mudar, preferindo o comodismo, conformismo, aceitação, ainda que isso traga muito mais sofrimento que a mudança em si? Por que as pessoas esquecem que ao nascer todos trazemos dentro de nós a potencialidade para ser feliz e viver em paz? O controle e as manipulações estão presentes para dominar as emoções do outro e, inconscientemente, limitar seu crescimento.

Será que as pessoas são conscientes do quanto foram ou são vítimas da agressividade silenciosa ou o quanto reproduzem essa mesma agressividade sem se darem conta? Digo vítimas, pois constantemente são feitas com crianças. Será que o agressivo percebe quanto destrói a si mesmo e todos que estão à sua volta? Muitas vezes são pessoas tão destruídas por dentro que nem se dão conta da própria dor ou agressividade, ignorando esses comportamentos por considerá-los "normais".

As agressões silenciosas são sutis e nem sempre são fáceis de serem percebidas, e por isso, perigosas. Muitas vezes são simples gestos, olhares, que reprovam, censuram, julgam. Em muitos casos, podem gerar doenças e quase sempre aquele que adoece num grupo familiar, inconscientemente, revela a doença latente do próprio grupo, sendo freqüentemente aquele que procura ajuda, não por ser o mais doente, como muitos acreditam, mas sim o mais sensível. O perigo é reforçado pelo aspecto repetitivo das atitudes agressivas, fazendo com que os envolvidos se acostumem com tais atitudes, podendo ser consideradas normais tanto por quem faz como por quem as recebe. Muitas pessoas mantêm relacionamentos afetivos mesmo quando não há respeito, carinho, afeto, com total desinteresse pelo que faz e, principalmente, pelo que sente; da mesma maneira que foram tratadas durante suas vidas e acabaram se acostumando a essa realidade. Não conseguindo identificar a origem, os padrões se repetem, pois nem sempre há a consciência da agressão recebida. O que pode levar ao outro extremo, sentir-se agredido mesmo que não tenha sido, interpretando erroneamente alguns fatos e agindo também de modo agressivo.

Um exemplo muito simples é quando se referem a alguém como "coitado", isso pode gerar um sentimento de alguém como incapaz de se defender. Ou ainda, quando ouvimos: "fiz por você", ou "não me separei por você". A princípio pode parecer uma frase de alguém preocupado com nosso bem-estar, uma aparente valorização, mas na verdade, revela uma provocação para que se sinta culpado, como se fosse: "veja como me sacrifico por você". Ou quando foi fazer um desabafo e foi julgado em seus sentimentos, como se sentiu? Uma pessoa constantemente desvalorizada em tudo que faz, pensa ou sente, tratada com indiferença, desprezo, dificilmente acreditará em si mesma. E isso não é uma agressão silenciosa? Há muitos outros exemplos, basta lembrarmos com atenção frases que ouvimos, gestos que observamos, perguntas ou comentários que nos constrangem ou nos induzem a não reagir ou nos defendermos. Tudo aquilo que nos fere, nos agride, ainda que não seja pela violência explícita, com tapas e berros, pode ser considerada uma agressão silenciosa.

Passe um filme mentalmente sobre sua vida e perceba quantas agressões silenciosas não gritam ainda hoje, talvez depois de anos, dentro de você. Perceba quantas vezes se sentiu agredido e por não reconhecer esse fato, ainda se permite ser. O conhecimento dessas agressões pode ser muito doloroso, mas não será mais doloroso e destrutivo manter esses padrões? Só identificando seu sofrimento poderá buscar soluções e mudar aquilo que acredita ser necessário mudar. A dor será muito menor do que continuar ignorando as agressões que viveu, ou ainda, se permite viver.

Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos, importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança interior.
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Email: r.zago@uol.com.br

Fonte: STUM

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mecânica da epilepsia

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificou, em uma série de estudos com ratos e camundongos, dois receptores de cininas responsáveis pela excitabilidade neuronal
Agência FAPESP

Ao estudar as alterações na expressão gênica de marcadores moleculares ligados ao processo inflamatório na epilepsia do lobo temporal, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificou, em uma série de estudos com ratos e camundongos, dois receptores de cininas responsáveis pela excitabilidade neuronal.

As cininas são polipeptídeos gerados no sangue e em tecidos durante o processo inflamatório da doença. Os pesquisadores estudaram as alterações moleculares ligadas à geração de crises epilépticas visando à obtenção de novas abordagens terapêuticas para o controle da excitabilidade neuronal na epilepsia.

No estudo, que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Projeto Temático, foi verificada uma ação excitatória para os receptores B1 e uma ação neuroprotetora para os receptores B2 de cininas. As cininas têm papel fundamental no processo inflamatório da epilepsia e os cientistas observaram um aumento desses dois receptores na área do cérebro conhecida como hipocampo.

"Os camundongos passaram por uma técnica conhecida como 'nocaute' para os receptores B1 e B2 de cininas. Os animais foram geneticamente modificados para não produzir esses dois receptores e, em seguida, submetidos ao modelo de epilepsia induzido por pilocarpina [droga injetada em altas concentrações nos animais para a geração do chamado 'estado de mal epiléptico'], explicou a coordenadora da pesquisa Maria da Graça Naffah-Mazzacoratti, professora do Departamento de Bioquímica da Unifesp.

O trabalho foi desenvolvido em colaboração com o professor João Bosco Pesquero, do Departamento de Biofísica da Unifesp. Segundo Maria da Graça, os camundongos encontraram mais dificuldades em desenvolver epilepsia após a anulação do receptor B1, enquanto na ausência do receptor B2 os animais desenvolveram mais rapidamente a doença.

"Como conclusão, podemos dizer que o receptor B1 é epileptogênico e o B2 é protetor. Verificada pela primeira vez, essa associação também foi estudada em humanos. E mostra que tanto o tecido de pacientes submetidos à cirurgia para remoção do foco epilético como os animais experimentais têm expressão aumentada desses dois receptores ligados ao processo inflamatório e relacionados com a formação e manutenção da excitabilidade do cérebro", explicou Maria da Graça.

A pesquisa identificou ainda a ação de substâncias potencialmente protetoras do cérebro, tais como a melatonina (hormônio produzido pela glândula pineal) e o ômega 3, ácido graxo encontrado em altas concentrações em alguns peixes e na membrana dos neurônios.

"Os resultados mostram que a melatonina pode proteger o cérebro de crises, o que é um achado importante, embora não tão inédito quando comparado a outros estudos internacionais. O ômega 3, por sua vez, além de também reduzir crises, se mostrou capaz de diminuir as disritmias cardíacas induzidas pela doença, reduzindo assim o risco de morte súbita", disse.
Dano cerebral diminuído

Com base nesses resultados, os pesquisadores poderão estudar a utilização da melatonina em pacientes com o objetivo de minimizar o dano cerebral e reduzir o desenvolvimento da epilepsia do lobo temporal, que é refratária a medicamentos.

"A idéia é que a melatonina não seja utilizada sozinha, mas como coadjuvante com outras drogas atualmente empregadas no controle das crises", apontou Maria da Graça.

Os animais do estudo, todos machos e adultos, tiveram epilepsia induzida por pilocarpina (alcalóide encontrado na folha do jaborandi), gerando uma crise de longa duração capaz de eliminar neurônios em várias áreas do cérebro, principalmente no hipocampo.

O impacto do exercício físico sobre os mecanismos ligados ao controle de crises epilépticas também foi analisado e os resultados indicam que os exercícios têm ações benéficas sobre o cérebro, induzindo uma proteção neural. Os animais treinados diariamente apresentaram um número menor de crises convulsivas do que os animais não treinados.

Os trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores têm mostrado uma função bastante importante do exercício físico na plasticidade cerebral.

"Especificamente, no modelo experimental de epilepsia, usado no Projeto Temático, verificamos que o exercício físico induz um aumento na expressão de proteínas ligadas aos neurônios gabaérgicos - que protegem o cérebro da excitabilidade induzida pela epilepsia, impedindo crises convulsivas", disse.

Segundo ela, o projeto, intitulado "Alvos moleculares na plasticidade neuronal em diferentes modelos experimentais", gerou até o momento 58 artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais.

A epilepsia atinge cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. "Em países em desenvolvimento a incidência é de 50 por 100 mil pessoas e cerca de 30% dos pacientes apresentam epilepsia refratária às medicações disponíveis atualmente. A epilepsia refratária é aquela de difícil controle com medicamentos e que muitas vezes necessita de intervenção cirúrgica", disse Maria da Graça.

Continuar trabalhando pode adiar demência em idosos

Os pesquisadores ingleses analisaram dados de 1.320 pacientes e descobriram que os homens que continuaram trabalhando durante a velhice conseguiram adiar a doença

BBC Brasil

Manter o cérebro ativo através do trabalho em idade avançada pode ser uma forma eficiente de adiar a demência em homens, afirma um estudo realizado por cientistas britânicos.

Os pesquisadores analisaram dados de 1.320 pacientes com demência. Eles descobriram que os homens que continuaram trabalhando durante a velhice conseguiram adiar a doença.

O estudo do Instituto de Psiquiatria do King's College de Londres foi publicado pela revista científica International Journal of Geriatric Psychiatry.

A demência é causada por uma perda de grande parte de células do cérebro. Especialistas acreditam que uma forma de se proteger contra isso é criando o maior número de conexões entre as células o possível através de atividades mentais. Esse fenômeno é chamado de "reserva cognitiva".


Amostragem pequena

Pesquisas anteriores indicavam que uma boa educação pode diminuir os riscos de demência.

O estudo do King's College sugere que para cada ano que a aposentadoria foi adiada na vida de uma pessoa, houve um retardo de seis semanas na manifestação da doença.

"A possibilidade de que a reserva cognitivas de uma pessoa possa ser alterada em idade avançada dá mais peso ao conceito de 'use [o cérebro] ou perca-o', que determina que manter uma vida ativa em idade avançada traz benefícios importantes para a saúde, incluindo a redução de risco de demência", disse o pesquisador John Powell.

Os pesquisadores afirmam que a natureza da aposentadoria também mudou ao longo dos anos. Para muitas pessoas, a aposentadoria pode ser tão estimulante intelectualmente quanto se manter na ativa.

O pesquisador Simon Lovestone, que leu o artigo, mas não participou da pesquisa, disse que "o estímulo intelectual de pessoas mais velhas no ambiente de trabalho podem prevenir um declínio das habilidades mentais, mantendo as pessoas fora do alcance da demência por mais tempo."

Ele ressalta, no entanto, que ainda é preciso fazer mais estudos sobre demência para comprovar a relação entre os diferentes fatores.

Para Susanne Sorensen, diretora da Sociedade de Alzheimer da Grã-Bretanha, a pequena amostragem do estudo faz com que seja difícil que se tire conclusões definitivas sobre o tema.

"Pode haver uma série de motivos que ligam a aposentadoria em idade avançada em homens à manifestação tardia da demência", disse Sorensen.

Fonte: Portal Ciência & Vida

terça-feira, 30 de junho de 2009

Arte de Saber Ouvir

"De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver junto e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: ‘No princípio era o verbo’. Eu acrescento: ‘Antes do verbo era o silêncio.’ É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra, se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio."
- Rubem Alves

Você sabe ouvir o seu filho, mulher, chefe, colega de trabalho ou amigo? A tarefa não é tão fácil quanto parece, porque ouvir é “deixar de lado a sua onipotência, não ter controle da situação, mas se despojar do próprio narcisismo. É preciso colocar a virtude da humildade no lugar da arrogância”. É assim que a escritora e psicanalista Ana Cecília Carvalho reconhece o ato de ouvir, “que não se aprende em nenhum manual de auto-ajuda, mas por meio de experiências pessoais”. Ela, por exemplo, passou por uma experiência enriquecedora com um velho amigo. “Ele me esperava chegar às reuniões sociais com muita expectativa e até com uma certa ansiedade. Quando eu aparecia, lá estava ele sentado, sozinho e quieto, e ia logo dizendo que era muito bom me ver, porque a partir daquele momento, ele poderia ficar em silêncio, sem dizer nada.”



Saber ouvir, segundo Ana Cecília, é aprender a ficar em silêncio. “É dar espaço para o outro falar o que quiser. E se não quiser, não dar importância, desde que um dos dois suporte bem o silêncio. Uma pessoa escuta melhor quando suporta não ter o que dizer”, explica.


Em um de seus artigos, o escritor Rubens Alves também reconhece que “não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa pára, por não ter o que dizer, tratamos logo de falar qualquer coisa, para pôr um fim ao silêncio”. Em uma de suas obras, ele inclui um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. “Ali estamos, nós, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou para o chão? Nada temos para falar e esse silêncio é como se fosse uma ofensa. Então, falamos sobre o tempo. Mas nós bem sabemos que se trata de uma farsa para encher o tempo até que o elevador pare.”


Segundo ele, os orientais entendem melhor o silêncio. “Se não me engano, o nome do filme é Aconteceu em Tóquio, com duas velhinhas que se visitavam. Por horas, elas ficavam juntas, sem dizer uma única palavra. Nada diziam, porque no silêncio delas morava um mundo. Faziam silêncio não por não ter nada a dizer. Mas porque o que tinham a dizer, não cabia em palavras”. E completa: “A filosofia ocidental é obcecada pela questão do ser, mas a oriental valoriza o vazio, o nada. É no vazio da jarra que se colocam flores”.



A profissão de psicanalista é baseada no ato de ouvir, mas fora do consultório, Ana Cecília não pode ficar escutando o inconsciente de todas as pessoas, em todos os lugares. “Embora seja possível, não posso fazer uma boa escuta, que tem a ver com o interesse de um indivíduo pelo outro. Não por curiosidade, mas por um interesse genuíno. Para escutar, tenho que calar os meus ruídos internos, para deixar o outro falar. E dar valor ao que está sendo dito.”


Apesar de reconhecer que o silêncio é significativo, não tem como fugir do equívoco. Tanto do silêncio quanto da fala: “Portanto, saiba bancar as conseqüências das suas palavras e também do seu silêncio”, diz.



No palco


A frase que o ator, diretor e roteirista de cinema Cláudio Costa Val, de 38 anos, mais ouve dos filhos adolescentes é “meu pai não me escuta”. Com 16 e 13 anos, Felipe e Pedro estão na fase de questionamentos, e o pai confessa que peca por não ter tempo suficiente para uma longa e boa conversa. “Na medida do possível, tento ouvir e conversar, mas reconheço que deveria ser com mais freqüência.”


Nas relações de amor também há muita cobrança. Casado e separado pela segunda vez, Cláudio reconhece que as companheiras também o criticam por não ouvir o que elas estão dizendo. “Sou um cara mais calado, o que não quer dizer que não estou escutando. Ouvir é diferente de escutar, da mesma forma que enxergar é diferente de ver. Tem pessoas que ouvem, mas não escutam. Outros, enxergam, mas não vêem, porque estão preocupados consigo mesmos.”



Com os casais acontece o mesmo: “Apesar de gostarem um do outro, não conseguem se fazer entender nem ouvir, o que vai minando o relacionamento, até provocar um afastamento real”. Cláudio acha que é mais fácil falar bobagens do que ficar em silêncio, mas reconhece que há um momento em que ele se cala. “É quando estou no processo de criação como agora, com a finalização de dois filmes, um no Rio e outro em BH, e desenvolvendo um roteiro para um curta-metragem. “Nessa fase, não quero conversar. Fico introspectivo.”



O grande ator, segundo ele, é o que escuta “o colega com o qual está contracenando. A maioria, porém, se preocupa mais em dizer o texto, em detrimento de ouvir o que o outro está falando. Arte é saber ouvir e sentir o outro em cena”.


Déa Januzzi

Fonte: Saúde Plena

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