O Toque como via de acesso
Por Márcia Bruno
Pensemos um pouco sobre a expressão “com tato”...
Falar, agir com tato significa ser cuidadoso, delicado, respeitoso. Mas é também agir e falar através do sentido do tato, do contato entre peles, entre corpos. Talvez por isso a expressão tenha se impregnado desse significado de delicadeza e cuidado. Falar com o tato é comunicar-se através da linguagem corporal mais arcaica e profunda, primordial.
Dentro da barriga da mãe o tato é o primeiro sentido que se desenvolve. Vamos crescendo dentro de nossa mãe imersos em sensações táteis, até chegar um ponto em que as costas e o útero parecem fundidos, como um abraço contínuo, que nos estimula e acolhe. Essa comunicação afetiva é estabelecida na origem através da linguagem corporal. A função psíquica, então, se apóia e se desenvolve a partir da vivência corporal. Esta vivência, no quadro de uma relação segura, dá acesso a um sentimento de base que garante ao sujeito a integridade do seu envelope corporal.
As mãos são as partes do nosso corpo que mais se ligam ao significado amplo do tocar. São elas que freqüentemente realizam a experiência do contato. E é através delas que emitimos mais energia do nosso ser, podendo, assim ampliar nossas possibilidades de encontro com o outro.
Dentro desta perspectiva, o toque é um elemento muito potente, pois faz referência a uma das primeiras memórias somáticas do ser humano. Ao tocar o corpo de uma pessoa, tocamos na história de vida desse sujeito, pois nosso corpo imprime todos os registros emocionais.O trabalho terapêutico pela via do toque torna-se muito potente, na tentativa de restabelecer essa comunicação tátil primária. Enquanto terapeuta corporal, tenho possibilidade de acompanhar o indivíduo, utilizando massagens e percursos apropriados com intenções precisas, em seu processo de desenvolvimento pessoal. Meu lugar, nesta relação é de uma “parteira”, possibilitando o reconhecimento da profunda existência da pessoa, viabilizando a expressão de sentimentos, sensações e /ou imagens e promovendo a diluição da tensão nervosa. Ou seja, a capacidade de dissolução e regulação de “resíduos” emocionais, a partir da descarga metabólica.
O registro é o da sensação, tornando-se possível o relaxamento do controle mental para a conexão com o universo sensorial. Nesse espaço é viável conectar um outro ritmo, uma outra respiração, e resgatar a confiança no seu ser orgânico, no seu ser corporal.
Fonte: NUNAP